O lugar mais isolado da Terra: por que o Ponto Nemo é evitado?

Em pleno século XXI, quando quase todo o planeta está conectado por rotas aéreas e marítimas, existe uma região no Oceano Pacífico Sul praticamente intocada: o Ponto Nemo. Localizado a mais de 2.700 km de qualquer terra habitada, ele é considerado o lugar mais remoto da Terra. Mas o que torna essa área tão hostil que até aviões e navios evitam cruzá-la?

Mapa global destacando rotas marítimas e o Ponto Nemo, localizado no centro do Pacífico Sul, marcado com ícone vermelho sobre área sem tráfego

Onde fica o Ponto Nemo?

O Ponto Nemo está no coração do Pacífico Sul, a uma distância comparável à que separa o Rio de Janeiro do Amapá – só que, nesse caso, em qualquer direção, há apenas água. Esse isolamento geográfico é o primeiro fator que contribui para sua inóspita reputação.


O Pacífico Sul: uma armadilha natural

Diferente do Atlântico, o Pacífico Sul é um imenso campo aberto sem grandes massas de terra para atenuar ventos ou correntes marítimas. Isso cria o chamado fetch – uma vasta extensão de oceano onde os ventos sopram livremente, gerando ondas gigantes.

As ondas médias na região costumam ter 3 metros, mas em áreas austrais, durante tempestades, podem ultrapassar os 30 metros — altura equivalente a um prédio de 10 andares. Isso representa um perigo enorme para navios cargueiros, que têm altura média de 30 a 35 metros acima da linha d’água.


Correntes perigosas e clima extremo

A Corrente Circumpolar Antártica (CCA) domina essa parte do oceano. É a corrente oceânica mais volumosa do planeta, com águas geladas que raramente ultrapassam 2°C. Essas condições representam riscos de hipotermia para qualquer tripulação em caso de acidente, além de instabilidade nas embarcações por formação de gelo no casco durante o inverno austral.

Já os ventos de 50 rugidores e 60 uivantes, característicos das latitudes extremas, somam-se às correntes de densidade provocadas por contrastes entre águas quentes e frias, criando zonas de turbulência oceânica que afetam inclusive a superfície do mar.


E os aviões? Por que evitam essa região?

Mesmo com o avanço dos motores a jato e das certificações ETOPS – que regulam até quantos minutos um avião bimotor pode voar com um motor inoperante –, as rotas no Pacífico Sul continuam sendo um desafio. Um avião com certificação ETOPS-120, por exemplo, não consegue cruzar a região com segurança, já que os aeroportos alternativos mais próximos (como a Ilha de Páscoa ou Pitcairn) estão a horas de distância.

Além disso, ventos de até 300 km/h tornam as rotas mais longas, exigindo mais combustível, o que aumenta custos e torna muitos voos economicamente inviáveis.


O fator econômico

As principais rotas comerciais marítimas e aéreas do mundo conectam centros econômicos como América do Norte, Europa e Ásia. O Pacífico Sul, por sua localização, não está entre essas rotas, o que diminui naturalmente o tráfego. Voos entre Austrália, Nova Zelândia e América do Sul são as raras exceções — e ainda assim, passam longe do Ponto Nemo sempre que possível.


Um erro de percepção: o papel dos mapas

A maioria dos mapas que usamos adota a projeção de Mercator, que distorce áreas próximas aos polos e faz o Pacífico Sul parecer ainda mais vasto e inacessível. O que parece ser uma linha reta entre Santiago e Sydney, por exemplo, na verdade passa mais próximo da Antártida, aumentando ainda mais os riscos.


Conclusão: um mundo (ainda) selvagem

O sul do Pacífico continua sendo uma das últimas fronteiras selvagens do planeta. Nem mesmo os avanços tecnológicos conseguiram domar completamente a combinação de ondas colossais, ventos extremos, clima imprevisível e isolamento absoluto. Por isso, o Ponto Nemo permanece como o vazio no mapa, um lembrete de que ainda existem lugares na Terra onde o ser humano prefere não ir.

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