Por que o Tocantins é tão pouco povoado?
Imagine um estado maior que o Rio Grande do Sul, mas com menos habitantes que um bairro de São Paulo. Esse é o Tocantins — um dos estados mais jovens e menos populosos do Brasil. Apesar de sua posição estratégica no centro do país e de possuir rios importantes e uma capital planejada, o estado ainda enfrenta desafios históricos, geográficos e econômicos que explicam seu baixo povoamento. Neste artigo, vamos entender as razões por trás desse fenômeno.

Tocantins: grande em território, pequeno em população
Com pouco mais de 1,6 milhão de habitantes, o Tocantins representa menos de 1% da população brasileira. O dado impressiona quando comparado ao seu tamanho: o estado é maior que 16 outras unidades federativas, incluindo Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Enquanto seus vizinhos — como Pará, Maranhão, Goiás e até o também esparsamente povoado Mato Grosso — contam com populações bem superiores, o Tocantins permanece como uma exceção.
Um estado jovem, com raízes antigas
Criado oficialmente em 1988, após o desmembramento do norte de Goiás, o Tocantins é mais jovem que boa parte de seus próprios habitantes. Antes disso, a região era conhecida como norte goiano, e por séculos foi marginalizada politicamente, com infraestrutura precária e acesso difícil ao restante do país.
Durante o ciclo do ouro no século XVII, cidades como Natividade e Porto Nacional surgiram, mas a decadência da mineração levou a um novo período de estagnação econômica, marcado por pecuária extensiva e densidade populacional baixíssima.
Geografia e clima desfavoráveis
O estado se localiza em uma zona de transição entre a floresta amazônica e o cerrado. O clima, com calor intenso e longos períodos de seca, somado a solos historicamente pobres, dificulta a agricultura sem o uso de tecnologias como irrigação. A navegação também é limitada: rios como o Tocantins enfrentam barreiras naturais, como cachoeiras, e nunca serviram de verdadeiras rotas de integração nacional — ao contrário do São Francisco ou dos rios amazônicos.
Falta de grandes ciclos econômicos
Diferente de outras regiões que viveram booms econômicos — como o ciclo do ouro em Minas Gerais, o café em São Paulo ou a borracha na Amazônia — o Tocantins nunca atraiu grandes massas migratórias. A base econômica ficou restrita à pecuária, que ocupa grandes áreas e emprega pouca mão de obra. Isso não é exclusividade brasileira: regiões pecuaristas ao redor do mundo, como os pampas argentinos e o meio-oeste dos EUA, também apresentam densidade populacional reduzida.
A infraestrutura chegou tarde
Até a década de 1960, com a construção da rodovia Belém-Brasília, o Tocantins era praticamente isolado. A ferrovia Norte-Sul, outro marco importante, só se tornou operacional no estado no século XXI. Em contraste, estados do Sul e Sudeste já contavam com malhas ferroviárias no século XIX.
Com a criação da capital Palmas, planejada nos moldes de Brasília, o estado ganhou novo fôlego. A cidade saltou de zero para cerca de 300 mil habitantes em três décadas, sendo a capital que mais cresce proporcionalmente no Brasil.
Um futuro promissor?
O Tocantins ainda enfrenta os reflexos do isolamento e da negligência histórica, mas começa a despertar atenção por seu potencial agrícola, turístico (com destaque para o Jalapão) e logístico, por ligar o Norte ao Centro-Oeste brasileiro. Ainda assim, o estado segue como exemplo claro das desigualdades regionais do país.