Por que existe o Deserto de La Guajira na zona tropical?

Imagine estar sobre a linha do Equador, rodeado por florestas úmidas, e de repente dar de cara com um mar de dunas digno do Saara. Essa é a realidade do Deserto de La Guajira, na fronteira entre Venezuela e Colômbia — um “erro” geográfico que intriga cientistas e viajantes. Neste artigo, você vai entender como ventos alísios intensificados, ressurgência oceânica e insolação extrema conspiram para criar um clima árido onde deveria haver selva tropical.

Dunas douradas do Deserto de La Guajira com cactos e mar do Caribe ao fundo, sob céu azul claro, norte da Venezuela.

1. Um deserto em plena zona tropical

  • O Deserto de La Guajira fica a menos de 700 km da Amazônia, mas exibe clima BWh (deserto quente).
  • Em alguns meses, as chuvas ultrapassam 300 mm, algo impensável para um deserto “clássico” — aumentando ainda mais o mistério.

2. Ventos alísios: o gatilho da secura

Os ventos alísios sopram de leste para oeste sobre o Caribe. Ao alcançar a costa, o ar sobre a terra aquece rápido, gerando um vácuo que “puxa” mais vento. Devido ao efeito Coriolis, essa corrente se intensifica, forçando o ar seco da alta atmosfera para baixo. Resultado: menos nuvens, pouca chuva e dunas que lembram o Saara.


3. Ressurgência oceânica: o segundo ingrediente

Na costa de Colômbia e Venezuela, a água quente superficial é empurrada mar adentro; água fria e profunda sobe, resfriando o ar logo acima. Esse processo, chamado ressurgência, inibe a formação de nuvens — o mesmo mecanismo que deixa o litoral da Mauritânia extremamente seco, mesmo perto do Atlântico Norte.


4. Insolação e desertificação acelerada

Na faixa equatorial, o Sol incide quase na perpendicular, elevando a temperatura média anual. Sem cobertura vegetal densa — perdida pela aridez sazonal — o solo reflete mais calor e retém menos umidade, reforçando o ciclo de desertificação.


Conclusão

O Deserto de La Guajira prova que a geografia é cheia de paradoxos: basta a combinação de ventos alísios fortes, ressurgência oceânica e insolação intensa para transformar uma área tropical em um deserto quente. Esses fatores demonstram como clima, relevo e oceanos interagem para criar paisagens surpreendentes — lembrando que a natureza raramente segue regras simples.

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