Quando a Pérsia virou o Irã? Entenda a transição

Durante séculos, o nome Pérsia dominou mapas, livros e a imaginação ocidental. Mas desde 1935, o mundo passou a chamar essa antiga civilização de Irã. Afinal, o que mudou? A Pérsia deixou de existir? Entender essa transição é mergulhar em uma história milenar de impérios poderosos, conquistas, identidade cultural e estratégias diplomáticas. Neste artigo, você vai descobrir quando a Pérsia virou o Irã, e por que essa mudança vai muito além de uma simples troca de nomes.

Pintura histórica do exército persa marchando sob liderança de Ciro, com ruínas de Persepolis ao fundo, representando a transição entre Pérsia e Irã

O território que hoje conhecemos como Irã está localizado no planalto iraniano, uma região marcada por desertos escaldantes, como o deserto de Lut, e cadeias montanhosas imponentes. Desde o segundo milênio a.C., esse espaço foi ocupado por povos indoiranianos, como os medos e os persas.

A palavra “Pérsia” tem origem na região de Pars, atual província de Fars, e inicialmente designava apenas o povo persa. Já “Irã” deriva de Aryānām, que significa “dos arianos” ou “dos nobres”. Ou seja, o nome Irã tem raízes muito antigas, anteriores à consolidação do Império Persa.

Com a ascensão de Ciro, o Grande, no século VI a.C., teve início o Império Aquemênida, considerado por muitos historiadores como a primeira superpotência da história. Diferente de impérios como o assírio, que governavam pelo terror, os persas adotaram uma estratégia baseada na tolerância religiosa, respeito aos costumes locais e diplomacia.

Esse modelo foi tão eficaz que até Alexandre, o Grande, ao conquistar o império persa, absorveu elementos da cultura persa, casou-se com nobres locais e adotou vestimentas persas. Após sua morte, o território foi dividido entre seus generais, e a região do Irã passou pelas mãos de diversos dominadores: sássânidas, árabes muçulmanos, turcos seljúcidas, mongóis, até chegar à dinastia safávida, que oficializou o islamismo xiita como religião predominante.

Mas, se a palavra “Irã” já existia há milênios, por que a mudança oficial só veio em 1935? A explicação está na política externa. O então rei Reza Xá Pahlavi enviou uma circular às embaixadas estrangeiras pedindo que o nome Irã fosse usado em vez de Pérsia, com o objetivo de romper com as conotações negativas associadas ao termo “Pérsia” nas fontes ocidentais — que muitas vezes a retratavam como símbolo de luxo excessivo e tirania.

Essa decisão gerou polêmica. Muitos iranianos viam o nome “Pérsia” como um símbolo do passado glorioso de Ciro e Dario, enquanto outros abraçaram a nova identidade como parte de uma modernização nacional.

A Revolução Islâmica de 1979, que instaurou a República Islâmica do Irã, marcou uma ruptura radical com o Ocidente, intensificando a percepção negativa do nome “Irã” fora do país. Hoje, “Pérsia” evoca arte, poesia, tapetes e medicina medieval; enquanto “Irã” é mais associado a geopolítica, conflitos e fundamentalismo.


Conclusão:

A resposta para “quando a Pérsia virou o Irã” pode ser dupla: linguisticamente, Irã sempre esteve lá; politicamente, a mudança oficial veio só em 1935, como parte de uma estratégia diplomática. A história do Irã é também a história de seus nomes — reflexos das visões, conflitos e disputas culturais que atravessaram os milênios.

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